ARCANO
ONZE (MEMORABILIA DE 2013)
o bar pode ser uma
sentença de morte
meu nome vai aparecer
escrito nos cinzeiros marcando meu lugar ou minha presença passada
a vida próxima do
nosso casamento vai demorar ou não vir
foi o mais absurdo
dos dias: um sábado deslocado
a minha
solidão… e a sua…
o fantasma do amor
passado e os encontros nos ônibus
esses nossos
corações estranhos
a morte põe ovos na
ferida aberta; a vida abre as feridas
a lembrança
inusitada das leituras
é mentira que os
verdadeiros amores passem e era melhor que passassem
os amores que
não passam
eu não esqueço e você
não esquece e Freud está certo sobre isso
a memória… a
música brega com seu nome e o Velho Testamento
há um romance do
Bukowski carteiro no meu bolso
o que as cartas
jamais dirão
a televisão mostra a repentina versão de um Brasil mal simulado
minhas mãos
vazias
é preciso descobrir o
que realmente importa
é preciso
descobrir o que importa realmente
eu quero olhar pros
seus olhos escuros e sinceros
eu quero entender as
coisas que não entendo
eu quero quebrar a
lógica da estrofe e iniciar um novo modo de oração
é preciso falar não
como o escritor publicado ou o poeta que se finge sábio
é preciso falar como
o Airton Uchoa Neto de 1993
antissocial e sem
sorte com as mulheres e sem futuro certo
andando sozinho nas
dez horas da noite da Francisco Sá sobre um tapete de jornais velhos
pensando uma canção
em inglês que diz de todas as cidades do mundo
e querendo que a dele
seja uma delas
é preciso saber os
horizontes futuros dos livros e das criança planejadas em segredo
os noticiários são
pouco claros sobre todos os tempos
espero que as cartas
na mesa digam o futuro
antes que o telefone
toque
[airton uchoa neto]